Camila Grilli
Imagem: vectorjuice/Freepik
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é um transtorno que, entre outras manifestações, se caracteriza pela presença de movimentos repetitivos e pela dificuldade de interação social. Por se tratar de um espectro, apresenta três diferentes níveis, denominados “níveis de suporte”. Ao longo dos anos, o TEA tem conseguido mais visibilidade, mas é fato que apenas isso não é suficiente, tendo em vista o preconceito que ainda atinge essas pessoas. É preciso que haja estudos e esforço real de adaptação por parte da sociedade a essas pessoas.
É exatamente isso o que afirma Juan Colaço Santoro, professor de educação física adaptada que tem experiência com alunos no espectro. Em seu trabalho de conclusão de curso (TCC) para graduação em Educação Física na UFU, Santoro realizou uma análise dos trabalhos sobre autismo do IX Congresso Brasileiro de Educação Especial, que aconteceu em 2021. A monografia do educador foi apresentada em janeiro de 2023 e trouxe o mapeamento completo não só dos trabalhos do Congresso que diziam respeito ao TEA, mas também de todas as pesquisas já realizadas sobre o autismo.
A análise minuciosa se inicia nos primórdios dos estudos do transtorno com Hans Asperger, em 1944, e contempla todos os processos de evolução da compreensão do TEA até 2022, último registro encontrado pelo professor até o momento de apresentação do TCC. O estudo traz, ainda, como a relação de pessoas no espectro e diversas facetas da vida cotidiana tem sido estudada, tais como práticas pedagógicas, tecnologia e redes sociais, família, entre outros temas.
Conforme o próprio professor, apesar de existirem muitas pesquisas sobre o TEA, essas ainda não são suficientes. Com sua análise, Santoro pretendeu evidenciar as lacunas existentes nos estudos sobre o autismo e, assim, apontar caminhos a serem trilhados por futuros pesquisadores. “Eu espero que esse trabalho contribua para as demandas que os autistas têm”, destaca ele.
Professor Juan Colaço Santoro analisou diversos trabalhos desenvolvidos sobre TEA. (Foto: Marco Cavalcanti)
Além disso, o professor também destaca a importância, para além da compreensão da vivência de pessoas autistas, do diagnóstico feito de forma adequada e bem investigada.
A vivência autista
Diante disso, Paulo Félix, estudante de Jornalismo na UFU que está no espectro, conta sobre sua experiência singular com o diagnóstico: “em 2013, quando eu tinha 12 anos, minha mãe me levou a uma psiquiatra e ela me diagnosticou inicialmente com fobia social”. Foi apenas no final de 2022, quase uma década depois, que Félix recebeu seu diagnóstico decisivo do TEA. Entretanto, este foi, para ele, um momento conflituoso. “Muita coisa começou a fazer sentido e muita coisa não”, conta o estudante.
A partir do que se considera um diagnóstico tardio, a vida de Félix mudou. “Foi bem estranho me identificar enquanto uma pessoa com deficiência e saber como funciona todo esse universo, de pessoas que são diferentes e pensam diferentes”, confessa ele. Por conta disso, o estudante passou a se engajar e se integrar mais com a causa da visibilidade autista.
Atualmente, Félix é cofundador do recém-formado coletivo Infinito, ao lado dos professores da Faculdade de Educação (Faced) Nuno Manna e Valéria Asnis, que visa aproximar pessoas já diagnosticadas com TEA ou no processo de descoberta do diagnóstico, a fim de compartilhar experiências e criar uma rede de apoio de e para pessoas que, de fato, vivem o cotidiano autista. “Pessoas neurotípicas não entendem o que pessoas autistas sentem. Tem como você se empatizar, mas é diferente de sentir e de ser”, reitera o estudante, a respeito do papel e da importância do coletivo.
O coletivo é atualmente voltado para aqueles que possuem vínculo com a UFU, em especial estudantes, e está no processo inicial de formação. Para mais informações, acesse a página do Instagram @coletivoteaufu.
Este texto foi originalmente publicado no portal Comunica UFU, que concedeu sua adaptação e reprodução para o Coletivando-se.
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